Foto por Maria de Menicucci |
Quando o convidei para entrevistar, ele me disse “Cara, só tenho um
pedido: não me faz as perguntas de sempre pelo amor de deus! Não aguento mais
responder!”. Então se esperam saber como ele começou, esquece. Ele é chato e já
fez isso em sua fan-page.
Porém, assim como Legato, ele faz parte de uma pedaço importante da
nossa historia. Dando os primeiros passos, numa época que onde informação e fotógrafos eram poucos, e tinha que se tirar leite de pedra:
1)
Começar com o básico, conte um pouco quem é você?
Meu nome é Gabriel Dias, tenho 30 anos, atualmente
moro em Porto Alegre (RS). Natural de Taubaté (SP), mas com muitas andanças por
esse mundo. Formado em Publicidade e Propaganda, com especialização em Artes
Visuais e mais um tantinho de cursos livres por aí; idiomas, fotografia,
jornalismo...
2) Te conheço faz 10 anos e
você sempre me disse que não era "fotografo" e mesmo você ja ter dado
esta explicação um milhão de vezes eu pergunto, por que você não se considera
fotografo?
A
pergunta de um milhão de dólares! *risos* Primeiro preciso deixar aqui,
publicamente que o termo "fotografista", que eu prefiro usar, foi
cunhado pela Paloma Alvarez (Pal-chan -se ela ler essa entrevista, um
"oi" para ela!) que, reza a lenda, numa noite regada a álcool soltou
essa pérola. E sempre tive simpatia por esse termo. Ele causa um certo
estranhamento nas pessoas, só a reação delas já me diverte.
Isso
à parte, não gosto do termo "fotógrafo" porque, em essência, não o
sou. Eu tiro fotos, eu me divirto tirando fotos, posso tirar uns trocados
tirando fotos, mas não quero esse rótulo para mim. É como se tivesse assumindo
um compromisso que não desejo.
Também
é uma espécie de "crítica velada" à tanta gente que compra lá sua
DSLR de entrada (a "câmera profissional") ou uma compacta superzoom
(a "semi-profissional") e já sai criando site, logo, foto na frente
do espelho com câmera cobrindo metade do rosto e se intitulando
"fotógrafo". O termo, a profissão, deveria ser tratado com mais
carinho e cuidado.
E
não deixa de ser uma forma de dizer "não importa o termo que se use, o que
importa é o resultado final". Não preciso ser chamado (ou me considerar)
um "fotógrafo" para fazer meu serviço.
São
várias "razõezinhas", por assim dizer.
3) Isso já causo algum tipo
de estranheza com alguém que não entendeu essa "crítica" a galerinha
entusiasta?
Olha, acho que ninguém nunca entendeu a parte da crítica
velada. Então nunca recebi comentários sobre isso. Alguns "poker
face", no máximo. Quem sabe entendam agora, que falei com todas (ou
muitas) letras! Mas teve gente que levava o termo "a sério" e acha
que eu verdadeiramente me ofendo quando me chamam de "fotógrafo"
*risos*
4)
Independente do termo que você usa, sei que o que mais você tem é
equipamento. O que você normalmente mais usa nos ensaios e nos eventos?
Já
que eu vou mudando com alguma constância, depende do que eu tenho no momento,
né? Atualmente o "equipamento titular" é a Pentax K5 + Tamron 16-50mm
F2.8 e a Tamron 70-200mm F2.8 para as fotos de palco (quando possível). Tava sendo
também o equipamento titular para ensaios, até que esse ano adquiri a Sony NEX
6. Eu não a usaria para eventos nem ensaios, mas resolvi fazer esse teste e
fiquei apaixonado por ela. No caso da NEX eu tenho a 16-50mm F3.5-5.6 PZ e a
50mm F1.8 (que é fantástica!). Mesmo com a minha nova paixãozinha, a Pentax é o
cavalo de batalha e será a titular para os eventos, onde se precisa de mais
robustez, velocidade e, principalmente, que a bateria dure o evento todo!
A
NEX tem boas chances de ficar pros ensaios, por ser mais discreta, chamar menos
a atenção e intimidar bem menos os cosplayers.
Acho que você está esperando essa deixa, então vou dizer: não
uso flash externo. Ao contrário da grande maioria dos fotógrafos. Só me viro
com o que eu tenho de luz natural -ou falta dela.
Sabe que ninguém me fez essa pergunta, por mais óbvia que
ela seja? Vai ver porque lido mais com gente que tá começando e quem começa
sempre tem aquela aversão natural ao flash (você que é um grande
"strobist" que sabe bem como é!). Daí gente mais experiente, que já
adotou o flash, tenho pouco -ou nenhum- contato e jamais perguntaram.
Esse estilo foi meio de caso pensado, meio natural.
Porque eu bem que tentei usar flash como um fotógrafo normal. Era necessidade
tê-lo para o meu curso de fotografia. Logo, se eu o tinha, tentava usá-lo.
Inclusive, quando estava com a Sony A700, cheguei a ter dois flashes, os quais
eu gostava de brincar fazendo fotos off-shoe. Mas nunca foi muito a minha
praia, nunca rolou uma química, não sei.
Também flash tem aquelas limitações; mais uma coisa para
carregar na bolsa, tem que esperar recarregar depois de cada disparo, mais um
monte de pilhas etc. etc. etc.
O que me deu a confiança para adotar o estilo sem flash,
remar contra a corrente, foi esse artigo: Wedding Photography Insight with Jeff Ascough
Vale
muito a pena ler, mas resumirei: trata-se de um fotógrafo norte-americano de
sucesso, de renome, especialista em casamentos, que também optou pelo uso da
luz ambiente exclusivamente. E tem várias dicas bem interessantes.
Ele
chegou à conclusão que os equipamentos atuais eram bons o suficiente para que
se pudesse usar um ISO bem alto, que não existiam na época de filme (o máximo
que se fazia com filme era "puxar" um ISO6400. Hoje em dia ISO 12800,
25600 é comum!) sem perder a qualidade. Logo, o flash era desnecessário.
Assim
eu pensei "Bom, se esse fotógrafo renomado consegue fazer seu serviço sem
flash, eu vou tentar também!" e me equipei de acordo. Adotei lentes
rápidas (além das já citadas Tamrons, também uma 35mm F2 e uma 40mm F2.8, uma
câmera que oferece um ISO absurdo de até 51200, um dynamic range de 14 pontos
e, assim, sinto que "assumi" o estilo de uma vez por todas.
Também
tem o prazer de fazer algo diferente, naturalmente. Fazer um ensaio noturno e
ver a carinha de surpresa dos cosplayers "Nossa! Achei que fosse ficar
tudo escuro, mas parece que tá de dia! Como conseguiu?".
Obviamente
(e espero que isso sirva de lição) que eu estou me especializando nesse tipo de
fotografia. Não foi simplesmente de "birra" ou vontade de "ser
diferente". Quando se adota um estilo de fotografia, qualquer que seja
ele, há de se estudar muito, praticar, experimentar, se informar. Masterizar
aquele estilo com estudo e esforço.
6)
Isso reflete na sua escolha de não fazer uso
massivo de programas? Porque sempre tenho a impressão que você não curte muito
editar.
Não, não! Isso veio antes! Eu já não editava as fotos
desde que comecei a fotografar, lá em 2006 (digo 2006 porque foi quando comecei
"oficialmente" a fotografar eventos).
De novo, uma série de razões. Talvez as primordiais
sejam:
1) Eu não sei o que fazer com as fotos! Porque há uma
riqueza de possibilidades tão grandes de se editar uma foto, todas de maneiras
muito legais, que daria um resultado interessantíssimo, que acabo me sentindo
perdido. Como uma vez me disse meu grande amigo Marcos Vinícius
"Kim": "Você sabe mexer no Photoshop. Você só não sabe o que
fazer!". BINGO!
2) Por causa do trabalho no CB, que também tinha um viés
foto-jornalístico (dentro das nossas possibilidades da época, naturalmente),
era necessário uma rapidez na postagem das fotos. E eu, pessoalmente, sempre
tive um pé ali na área de jornalismo. Uma das coisas que mais se prezam é a
velocidade da informação; no meu (nosso) caso, é a velocidade com que as fotos
vão ao ar. Se eu não edito, posso fazer isso muito mais rapidamente.
3) No fim das contas, percebi que os próprios cosplayers
gostam de editar suas fotos! E acho chato eu "obrigá-los" a engolir o
meu estilo de edição -que poderia nem ser tão bom assim- ao invés de entregar
um resultado mais neutro que depois eles próprios pudessem editar ao próprio
gosto. Acho mais honesto, digamos assim.
Entretanto, eu sei das vantagens de um RAW e das
limitações do JPEG. Esse meu estilo de não editar, naturalmente, traz
desvantagens. Para contorná-las eu fui -sou- obrigado a fazer a foto ficar boa
"na unha", direto da câmera. Porque se ela ficar ruim ali, eu não
posso fazer muito mais para consertá-la do que se tirasse em RAW.
Ou seja, sou obrigado a melhorar, a crescer, como
fotografista também. É o mesmo caso de optar não tirar fotos com flash. Eu não
me acomodei com "eu tiro foto assim e pronto. Aceitem!". Ao
contrário, usei -e uso- como forma de aprender cada vez mais, tirar o máximo
possível da câmera e de mim mesmo.
E aqui eu sou obrigado a citar uma frase que li uma vez
num livro (acredito que seja da artista plástica Fayga Ostrower): "A
liberdade do artista dá-se no seu direito de se limitar". Se eu crio uma adversidade para mim, eu exerço a minha
liberdade de artista e me forço a me aprimorar. Nunca serei perfeito no meu
estilo (quem o é?), mas estou sempre procurando o aprimoramento. Isso é o mais
importante!
7)
Interessante esta maneira de pensar, ja
recebeu alguma negativa de algum cosplayer ou "comentarista de
internet" pelo seu estilo?
Olha, que tenha chegado a mim, de negativo, não. Não
duvido que alguém, em algum lugar, em algum momento fale/tenha falado. Sempre
tem, né?
Mas o que chegou até mim, várias vezes, até de gente bem
próxima é "Mas por que você não edita as fotos?? Fica muito melhor!"
e variantes. Nunca achei ruim, nem condenei essas pessoas, porque eram
perguntas bem válidas.
Às vezes, pela repetição, insistência, enchia um pouco o
saco, não nego. Porém, tudo depende de como se olha, né? Esse questionamento
outrora constante das pessoas foi o que serviu para me pôr para refletir muito
sobre o meu estilo. Como eu estava fazendo as coisas, por que estava fazendo as
coisas daquele jeito. No fim, só me agregou, porque acabei, de um modo ou de
outro, procurando por referências de outras pessoas que tinham um estilo
parecido e serviu para me aprofundar e solidificar uma base.
O meu estilo é totalmente instintivo. Se perguntar
"como começou a fazer tal coisa?" a resposta provavelmente será
"Não sei! Foi assim porque sim!". Entretanto, conforme algumas coisas
foram se tornando mais constantes no meu estilo, vi que era "o caminho a
seguir" fui moldando, aperfeiçoando. O que eu faço, como eu faço, hoje,
não é meramente ao acaso. Tem um bocado de esforço. Cada evento, cada ensaio,
cada passeio no parque e com fotos que não são de cosplay, cada aula de
fotografia que dou, é uma descoberta para mim e um tijolinho a mais no meu
estilo.
8)
Ai te pergunto: De 2006, quando você começou
a levar mais a sério a fotografia, até hoje o que mudou nas suas fotos acima de
tudo?
Ah, cara! Foi bom você ter feito essa pergunta hoje
porque, como você sabe, eu repassei recentemente todas as minhas fotos de 2006
para cá. Então, num curto espaço de tempo, pude rever tudo que fiz desde que
comecei. Mesmo que tenha passado rapidamente pelas fotos, porque só as estava
re-selecionando, já deu para sentir umas diferenças.
Muito embora eu não tenha conseguido, ainda, fazer uma
reflexão profunda da mudança. Mas houve, sim. O que eu consigo dizer (juro que
queria dizer mais, mas é um processo lento. Analisar a própria obra não é nada
fácil!!!) é que hoje consigo sentir mais "maturidade" no estilo.
No começo, como era de se esperar, eu arriscava muito
mais, porque estava naquela fase de experimentação. Algumas coisas bem
sucedidas, que reproduzo até hoje, e outras que eu olhei e pensei "Meu
Deus! Como que eu fiz isso? Por quê???" *risos*. Mas tudo dentro do
esperado.
Teve o período com a A100, a câmera que eu nunca amei e
que nunca me amou.
E o período mais marcante e a ruptura com ele:
Quando eu fotografava no "Studio
CB". Quando havia a escala de fotógrafos no CB, eu sempre
"brigava" para ficar no estúdio. Era uma zona de conforto imensa! Num
espaço controlado, em que os cosplayers vinham até mim, no meu fundinho branco
(por ora meio acinzentando com marcas de pé), com a mesma iluminação -ou falta
dela-, sem sombras, sem nuvens, sem sol mudando de posição. Tudo muito bem,
tudo muito bom.
Até que eu vim para Porto Alegre. Sem estúdio. Sem
espacinho reservado. Sem conhecer ninguém, portanto, sem cosplayers vindo até
mim. Eu saindo dessa posição completamente passiva para ter virar
"caçador". Não apenas "caçar" cosplayers, mas encontrar o
melhor lugar para fotografar. A melhor luz. Tudo. Antes era animal de
cativeiro, agora animal selvagem.
Comparando as fotos da época do CB, com as atuais,
nota-se essa maturidade, essa mudança de postura.
Claro que mesmo em SP eu já havia tido um grande
amadurecimento, já tinha tido a chance de melhorar em diversos outros aspectos,
já tinha feito um número razoável de photoshoots por aí (todos a céu
aberto).....
Outra mudança radical, para melhor, foram as fotografias
de palco. No começo era completamente "trigger-go-happy" (ou
"gatilho-feliz" numa tradução livre). O que me gerava mais de 1000
fotos para depois sobrarem 300. Um trabalho desnecessário. Comecei a ficar mais
atento ao "momento decisivo" no palco (com perdão ao Cartier-Bresson
em usar o termo dele para algo tão mundano), menos, porém mais precisos,
cliques.
Nos meus últimos momentos de SP, posso até dizer que
virei "especialista de palco".
9) Você saiu de São Paulo para Porto Alegre, já
fotografou muito aqui no Brasil, nunca pensou em fotografar fora? Pegar um
Anime Expo, um Fanime ou ir ate Anime Friends Argentina que é mais perto?
Nossa, penso sempre! Primeiro, o Brasil. Depois, o mundo!
*risos* (não me levem muito a sério, leitores do blog!) Eu fiquei muito perto
de ter ido a um evento da Argentina em 2009. Não era o Anime Friends, mas era
do mesmo organizador, o Leo Llinas.
Estive em Buenos Aires e já estava lá fazia quase duas
semanas quando, passeando pelas ruas, encontrei uma lojinha de "artigos
nerds" e vi lá o anúncio do evento. Seria na semana seguinte à que eu iria
embora. Por um momento pensei em tentar transferir a minha passagem e ficar
mais uma semana na capital portenha. Eu estava hospedado no apartamento de um
amigo meu (que mora até hoje com a namorada) e, como se sabe, "visita é
que nem peixe. Depois de uns dias, começa a feder". No caso, o peixe, era
eu. O clima lá já tava ficando meio cansativo, daí achei melhor voltar na minha
data original e deixar o evento para outra hora.
Mas estou querendo ir para eventos no exterior, sim. Só
não digo onde, nem quando, para não atrair olho gordo. Apenas digo que,
eventualmente, se o Cosmos quiser, vocês verão o "Photo by: Neo
NiGHTS" em solos gringos.
Prioridade é retomar os estudos de espanhol para poder ir
àlgum evento mais perto aqui.
Quando
estiver pensando em ir me avise, vai que vamos juntos porque vontade também
tenho!
Pode deixar que
quando estiver tudo arrumado, visto conseguido, passagem comprada e tudo mais,
aviso! Só tenho que manter as coisas meio por debaixo dos panos para não criar
expectativas e atrair olho gordo. Que é forte!
10)
Como você vê hoje a fotografia de Cosplay aqui?
Acha que pode se tornar algo mais profissional como la fora ou estamos fadados
a ficar só no "hobby" e a mercê da galera com a "câmera
grande" ?
Admito que não sou do tipo que fica olhando muito o
trabalho alheio. Mas, como é difícil ficar 100% alheio a tudo que se passa ao
redor, eventualmente acabo vendo fotos de outros fotógrafos, incluindo
estrangeiros.
Primeiro que impressiona como aumentou o número de gente
fotografando. E gente boa mesmo! Pô, parece que foi ontem que era "meia
dúzia de gato pingado" levando fotografia de cosplay pouco mais a sério e
agora acho que virou um nicho mesmo. Como não sei também como é lá fora, quão
profissional é, fica difícil dar uma resposta mais precisa ou, ao menos, bem
embasada.
Mas ainda tenho algumas ressalvas quanto a isso.... se me
permitir posso me alongar e explicar esse meu achismo.
Por favor!
Acho a fotografia de cosplay, num geral, aqui e no resto
do mundo, ainda sem identidade. Esperado, por ser algo novo. E eu tenho minhas
sérias dúvidas se ela teria se popularizado sem o advento das câmeras digitais
(mas não é isso que quero discutir aqui *risos*).
Por exemplo, você vê as categorias de
fotografia consagradas como Moda, Arquitetura, Esportes, fotojornalismo num
geral etc., e percebe um estilo bem determinado.Isso
eu não vejo nas fotografias de cosplay. Eu fotografo num misto
Artístico-Jornalístico e tenho um enfoque em transformar o cosplayer em
"como seria se o personagem se ele existisse de verdade". Portanto,
eu não me preocupo se a roupa tá meio amassada, se o cosplayer tem rugas, se
tem "banhinha" saindo pela roupa apertada. Eu quero adaptar o
personagem à realidade, por assim dizer.
Por outro lado, há um outro tanto de gente que quer
transformar o cosplayer num verdadeiro personagem de ficção, abusando de luzes,
cenários e, principalmente edição.
Também tem a questão de que muita gente que fotografa não
é, originalmente, do "mundo otaku". São pessoas que viram aquelas
"pessoas esquisitas, de roupas engraçadas" e viram ali um assunto
riquíssimo para fotografar. Gente das mais diversas áreas, especialmente Moda.
Você vai num evento de anime e vê gente tirando foto como se fosse em balada; fotos de multidão, sem focar especificamente em uma coisa ou outra.
Você vai num evento de anime e vê gente tirando foto como se fosse em balada; fotos de multidão, sem focar especificamente em uma coisa ou outra.
Tudo isso gera essa esquizofrenia, essa heterogeneidade,
que deixa difícil dizer "será que a fotografia de cosplay será algo levado
a sério"? Porque, a rigor, não há, ainda, uma "fotografia de
cosplay" bem conceituada, bem formatada, bem aceita.
Não estou aqui, de forma alguma, criticando estilo A, B
ou C. Tampouco dizendo que quem veio de outras áreas não podem fotografar
cosplay. Só apontando as diferenças.
Pequenas diferenças de estilo -veja bem, estilo!- são bem
naturais e bem-vindas. Assim como um Masami Kurumada não tem o mesmo traço de
um Eichiro Oda, ambos são mangakás. E o sabemos porque, diferenças de estilo à
parte, eles seguem um padrão do mangá.
O que eu espero, pessoalmente, no mínimo, é que se forme
uma categoria bem definida "foto de cosplay".
11)
Mas o que falta pra dar esta
"identidade"? Mal ou bem, o bom da fotografia é você diferenciar um
trabalho do outro, apesar de muitos estilos serem parecidos.
Acho que falta tempo. Digo, tempo de estrada, sabe? Já
viu as primeiras fotografias de fotojornalismo do começo do século passado?
Walker Evans, Dorothea Lange, Cartier-Bresson, Lewis Hine... eles ainda tinham
aquela coisa meio artística, resquício das pinturas de quadros (por assim
dizer). Meio que tentavam deixar -voluntariamente ou não- a pobreza bonita,
artística.
Acredito que se "fotografia de cosplay" não for
uma modinha dessas primeiras duas décadas do Século XXI, o tempo vai se
encarregar de dar uma formatação pra coisa.
Convenhamos, a maior parte das pessoas que fotografam
cosplay são jovens. Gente de, no máximo, 40 anos. A maioria (como eu e você) já
começou direto nas câmeras digitais. Vamos evoluir como pessoas, como
fotógrafos e tudo isso refletirá nas fotografias de cosplay.
Nós, que começamos um pouquinho antes, temos um grande
papel de servir de referência para quem tá chegando agora.
Como eu disse, estilo do fotógrafo é uma coisa. Um estilo
fotográfico, uma categoria fotográfica, é outro.
Por exemplo, toda fotografia de casamento tem que ter
foto do buquê, dos noivos entrando na igreja (especialmente a noiva!) e dos
noivos se beijando na hora do "sim". Todo o resto, de como isso é
feito, é estilo do fotógrafo. Melhor ou pior, não importa. Mas todos eles sabem
que têm que seguir certas regras daquela categoria que escolheram.
12)
Acha que em algum momento, por estar a tanto tempo, vai parar de
fotografar cosplays e seguir para outra área?
Difícil... só se, por milagre, descobrir outro ramo da
fotografia que me agrade mais do que tirar foto de cosplay. Incrivelmente,
fotografar cosplays é exatamente o que ainda me manteve na fotografia.
Como bom artista, já tive lá minhas crises de "Ah, cansei de tudo!!! Dane-se o mundo!!" e depois soseguei. Não tem muito o que explicar; simplesmente me agrada fotografar cosplayers. Não só pela fotografia, mas pelo processo. O ato de ir encontrar o cosplayer, fotografar, o tempo que se passa junto, é quase sempre muito divertido.
Como bom artista, já tive lá minhas crises de "Ah, cansei de tudo!!! Dane-se o mundo!!" e depois soseguei. Não tem muito o que explicar; simplesmente me agrada fotografar cosplayers. Não só pela fotografia, mas pelo processo. O ato de ir encontrar o cosplayer, fotografar, o tempo que se passa junto, é quase sempre muito divertido.
A foto em si acaba virando um "detalhe", por
assim dizer. Ela é consequência do processo e não a razão de ser.
Ou seja, se parar de fotografar cosplay, a tendência
seria até mesmo parar de fotografar.
13)
Você passou recentemente por uma pequena “polemica” com um evento ai
do Sul, isso inclusive me lembra que nos ja passamos por discussões mais
"acaloradas", mas essa ultima o que foi que aconteceu?
Ixe! Será que tem como resumir? *risos*
Aconteceu que surgiu uma galerinha nova aqui, que ninguém
nunca ouviu falar, e prometendo mundos e fundos. Normal, porque quem tá nesse
mundo otaku há ano já viu isso tantas vezes. No caso, apesar de uma
"leve" soberba, achei bacana a presença de mais um evento porque o
calendário de eventos aqui em Porto Alegre é meio vazio.
Faltando umas três semanas para o evento, fui ao site
deles e fiz meu cadastro de imprensa, como sempre faço com todos os eventos
daqui. Passou uma semana toda e não obtive um retorno. Fui e mandei de novo o
cadastro. Mais um tempão, e sem resposta. Chegou na véspera do evento e eu
anunciei no facebook que não iria mais, porque não havia tido um retorno da
organização; não me disseram nem "sim" e nem "não".
Algumas pessoas próximas a mim, resolveram pôr a boca no
trombone e consegui contato direto com o organizador responsável por esse
cadastro de imprensa. Fui tratar com ele, diretamente, pelo facebook e
expliquei a situação, que havia enviado o formulário duas vezes e não recebi
qualquer retorno. Ele respondeu com um "Então você não foi
escolhido". Vou encurtar a maneira seca e um tanto esnobe com a qual me
tratou depois disso.
Passou o evento, achei que a história havia sido
encerrada até que, num programa de webradio que tem por aqui, o qual um dos
organizadores do dito evento estavam presentes, um conhecido meu perguntou, de
boa fé, sobre o que havia acontecido comigo (Neo Nights). A resposta do rapaz
foi "Quem é Neo Nights?"
Para deixar a situação mais tragicômica, um outro participante do programa, que é responsável pelo segundo site mais popular de eventos aqui no RS, aproveitou para explicar quem eu era. Só que o fez de um modo que não me favoreceu muito. Fez comentários como que "Só tira (eu) fotos de umas pessoas que ele conhece", que não faço "fotos de cobertura" e daí pra baixo.
Para deixar a situação mais tragicômica, um outro participante do programa, que é responsável pelo segundo site mais popular de eventos aqui no RS, aproveitou para explicar quem eu era. Só que o fez de um modo que não me favoreceu muito. Fez comentários como que "Só tira (eu) fotos de umas pessoas que ele conhece", que não faço "fotos de cobertura" e daí pra baixo.
Acho que foi o maior golpe de traição da minha vida.
Porque sempre tive uma relação muito educada e muito cordial com esse colega de
imprensa. Embora o site dele não faça mais o meu estilo de trabalho, sempre o
respeitei muito.
Esperava ali até um pouquinho mais de
"corporativismo" e o que teve foi uma facada nas costas. Muito chato,
muito desnecessário e, sobretudo, muito deselegante. Primeira vez na vida que
sofri com isso.
Como resposta fiz um texto no facebook explicando todo o
meu histórico aqui no mundo otaku.
Se alguém não me conhecia, passou a me
conhecer. Fiz questão de fazer daquele post, um post público.
14)
Teve algum evento que ficou
marcado para você?
"Profissionalmente",
que eu fui para trabalhar?
Isso.
Vou citar três, cada um marcou de um jeito diferente. Por
ordem de importância:
1) Anime Friends 2008, o primeiro no Mart Center. Acho que foi o melhor evento que trabalhei. O espaço era enorme, muito amplo. Mesmo com evento lotado no domingo, conseguia me locomover entre o palco e a Sala do CB. A Sala do CB, então, foi uma coisa à parte. Conseguimos pegar uma sala bem grande (para quem não conhece o Mart Center, ele era um complexo formado por diversos pavilhões. Todos os pavilhões tinham uma estrutura de lojas de shopping, porque ele era mesmo um conjunto de shoppingzinhos), com dois andares, onde pudemos montar no "centro de imprensa". Tínhamos notebooks, conexão 3G (obrigado, Phael, pelo 3G!), então dava para já postar algumas fotos lá do evento em tempo real. Havia também um pavilhão que não fazia parte do "complexo" do Anime Friends e lá tinha uma boa praça de alimentação. Ir a um evento extremamente desgastante como o AF, mas poder almoçar comida de verdade, pagando um preço barato, foi incrível! (e como o espaço era amplo, eu conseguia me locomover rapidamente da área do palco até o pavilhão que tinha comida. Entre um desfile cosplay e concurso de cosplay, era tempo o suficiente para almoçar com calma e voltar. Sem me espremer no público!) Ah, claro, ali também cobri de cabo a rabo o YCC nacional.
1) Anime Friends 2008, o primeiro no Mart Center. Acho que foi o melhor evento que trabalhei. O espaço era enorme, muito amplo. Mesmo com evento lotado no domingo, conseguia me locomover entre o palco e a Sala do CB. A Sala do CB, então, foi uma coisa à parte. Conseguimos pegar uma sala bem grande (para quem não conhece o Mart Center, ele era um complexo formado por diversos pavilhões. Todos os pavilhões tinham uma estrutura de lojas de shopping, porque ele era mesmo um conjunto de shoppingzinhos), com dois andares, onde pudemos montar no "centro de imprensa". Tínhamos notebooks, conexão 3G (obrigado, Phael, pelo 3G!), então dava para já postar algumas fotos lá do evento em tempo real. Havia também um pavilhão que não fazia parte do "complexo" do Anime Friends e lá tinha uma boa praça de alimentação. Ir a um evento extremamente desgastante como o AF, mas poder almoçar comida de verdade, pagando um preço barato, foi incrível! (e como o espaço era amplo, eu conseguia me locomover rapidamente da área do palco até o pavilhão que tinha comida. Entre um desfile cosplay e concurso de cosplay, era tempo o suficiente para almoçar com calma e voltar. Sem me espremer no público!) Ah, claro, ali também cobri de cabo a rabo o YCC nacional.
2) ComicCon (Porto Alegre) 2013 - Foi meu primeiro evento
de algo de não-anime. Já haviam me dito que eventos de comics era diverso dos
de anime. Que o público era diferente, era mais "de boas". E pude
comprovar! Evento sem gente gritando e correndo. Sem meninas vendendo beijos a
R$0,50. Sem aquela parte chata dos eventos de anime. Apenas gente sossegada, querendo
curtir suas palestras, seus jogos de RPG, seus cosplays e boa. Excelente
experiência, até para mim, que não sou da área de comics e RPGs.
3) Animecon 2007 - foi o último Animecon que fui e,
honestamente, detestei o evento. Profundamente! Só que ele tem um "detalhe"
todo especial: não sei que raios de conversão astral que rolou naquele final de
semana que eu tirei muita foto boa! Muitas das melhores fotos de cosplay que
tirei em evento, são do Animecon 2007! Apesar de tecnicamente ter sido uma
droga, o resultado fotográfico foi o melhor possível! Não dá para entender!!!
Fotograficamente ele merece estar na lista.
Gabriel, Neo, chegamos ao final da entrevista!
Queria te agradecer muito por este tempinho que você cedeu para gente. Gostaria
que se deixasse ai algumas palavras, principalmente pro pessoal que ta
começando.
Mas já? Nem estamos aqui há três horas de papo! *risos*
Meu recado para quem tá começando a fotografar é: ESTUDE.
É evidente que fotografia é prática, isso é inegável. Nem tem o que discutir. Pode-se
acertar mais do que errar, se você tiver um "dom" a mais que o outro.
Mas prática, sem teoria, é só um exercício vazio de tentativa e erro e não dá
para fazer algo constantemente bom assim.
Vão atrás de informações, não tenham preguiça de
aprender. E quando obtiverem conhecimento, compartilhem-no. Sem essa de guardar
segredos, também não leva a nada. Conhecimento é para ser compartilhado.
Quero também agradecer a você, Bruno, meu primeiro
"meio-aluno". Já te disse uma vez mas digo aqui, publicamente: uma
pena que quando você começou eu também tava meio cru e não pude, pessoalmente,
te ensinar mais coisas. Mas é um orgulho enorme ver o quanto você se esforçou e
hoje tem um trabalho brilhante! Todos os méritos seus por ter corrido atrás e
fazê-lo até hoje!
Aos cosplayers que me dão a chance de fotografá-los. Sem
vocês eu não estaria aqui, de verdade. Continuem com o excelente trabalho.
Quem não tem nada a ver com a história, não é cosplayer e
nem fotógrafo, mas leu a entrevista e/ou gosta do meu trabalho, o meu muito
obrigado.
Assim como as pessoas que já fizeram/fazem críticas,
quaisquer que sejam. Sempre me põe a refletir e me fazem crescer como pessoa e
como fotografista (fotografista, viu? Fotógrafos são os pros, igual o Bruno
aqui!).
Cuidem-se todos!
É isso aí!
Valeu, novamente, Shinji "Bishcuôito" pela oportunidade! Espero que seus leitores gostem da entrevista.
ResponderExcluirNão vou pedir para gostarem do entrevistado, porém xD
Abraço!
Eu que agradeço pela entrevista =)
ExcluirFoi bem divertida inclusive!
Cada dia me surpriendo mais com a complexidade deste mundo de eventos, animes, cosplayer's, RPG.
ResponderExcluirIntriga! Jogo de influências! Profissionalismo! Paixão! Ódio! decepções! Técnicas! Filosofias.
Tudo isso em uma única entrevista!
Muito interessante!!! Muito interessante!!