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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Entrevistando #2 - Gabriel Neo

Foto por Maria de Menicucci

Quando o convidei para entrevistar, ele me disse “Cara, só tenho um pedido: não me faz as perguntas de sempre pelo amor de deus! Não aguento mais responder!”. Então se esperam saber como ele começou, esquece. Ele é chato e já fez isso em sua fan-page.

Porém, assim como Legato, ele faz parte de uma pedaço importante da nossa historia. Dando os primeiros passos, numa época que onde informação e fotógrafos eram poucos, e tinha que se tirar leite de pedra: 


1)      Começar com o básico, conte um pouco quem é você?

Meu nome é Gabriel Dias, tenho 30 anos, atualmente moro em Porto Alegre (RS). Natural de Taubaté (SP), mas com muitas andanças por esse mundo. Formado em Publicidade e Propaganda, com especialização em Artes Visuais e mais um tantinho de cursos livres por aí; idiomas, fotografia, jornalismo...

2)      Te conheço faz 10 anos e você sempre me disse que não era "fotografo" e mesmo você ja ter dado esta explicação um milhão de vezes eu pergunto, por que você não se considera fotografo?

A pergunta de um milhão de dólares! *risos* Primeiro preciso deixar aqui, publicamente que o termo "fotografista", que eu prefiro usar, foi cunhado pela Paloma Alvarez (Pal-chan -se ela ler essa entrevista, um "oi" para ela!) que, reza a lenda, numa noite regada a álcool soltou essa pérola. E sempre tive simpatia por esse termo. Ele causa um certo estranhamento nas pessoas, só a reação delas já me diverte.

Isso à parte, não gosto do termo "fotógrafo" porque, em essência, não o sou. Eu tiro fotos, eu me divirto tirando fotos, posso tirar uns trocados tirando fotos, mas não quero esse rótulo para mim. É como se tivesse assumindo um compromisso que não desejo.

Também é uma espécie de "crítica velada" à tanta gente que compra lá sua DSLR de entrada (a "câmera profissional") ou uma compacta superzoom (a "semi-profissional") e já sai criando site, logo, foto na frente do espelho com câmera cobrindo metade do rosto e se intitulando "fotógrafo". O termo, a profissão, deveria ser tratado com mais carinho e cuidado.

E não deixa de ser uma forma de dizer "não importa o termo que se use, o que importa é o resultado final". Não preciso ser chamado (ou me considerar) um "fotógrafo" para fazer meu serviço.

São várias "razõezinhas", por assim dizer.

        3)      Isso já causo algum tipo de estranheza com alguém que não entendeu essa "crítica" a galerinha entusiasta?

Olha, acho que ninguém nunca entendeu a parte da crítica velada. Então nunca recebi comentários sobre isso. Alguns "poker face", no máximo. Quem sabe entendam agora, que falei com todas (ou muitas) letras! Mas teve gente que levava o termo "a sério" e acha que eu verdadeiramente me ofendo quando me chamam de "fotógrafo" *risos*

         4)      Independente do termo que você usa, sei que o que mais você tem é equipamento. O que você normalmente mais usa nos ensaios e nos eventos?

Já que eu vou mudando com alguma constância, depende do que eu tenho no momento, né? Atualmente o "equipamento titular" é a Pentax K5 + Tamron 16-50mm F2.8 e a Tamron 70-200mm F2.8 para as fotos de palco (quando possível). Tava sendo também o equipamento titular para ensaios, até que esse ano adquiri a Sony NEX 6. Eu não a usaria para eventos nem ensaios, mas resolvi fazer esse teste e fiquei apaixonado por ela. No caso da NEX eu tenho a 16-50mm F3.5-5.6 PZ e a 50mm F1.8 (que é fantástica!). Mesmo com a minha nova paixãozinha, a Pentax é o cavalo de batalha e será a titular para os eventos, onde se precisa de mais robustez, velocidade e, principalmente, que a bateria dure o evento todo!

A NEX tem boas chances de ficar pros ensaios, por ser mais discreta, chamar menos a atenção e intimidar bem menos os cosplayers.

Acho que você está esperando essa deixa, então vou dizer: não uso flash externo. Ao contrário da grande maioria dos fotógrafos. Só me viro com o que eu tenho de luz natural -ou falta dela. 


   5)      E já que você me deu a deixa, por que adotou este estilo?

Sabe que ninguém me fez essa pergunta, por mais óbvia que ela seja? Vai ver porque lido mais com gente que tá começando e quem começa sempre tem aquela aversão natural ao flash (você que é um grande "strobist" que sabe bem como é!). Daí gente mais experiente, que já adotou o flash, tenho pouco -ou nenhum- contato e jamais perguntaram.

Esse estilo foi meio de caso pensado, meio natural. Porque eu bem que tentei usar flash como um fotógrafo normal. Era necessidade tê-lo para o meu curso de fotografia. Logo, se eu o tinha, tentava usá-lo. Inclusive, quando estava com a Sony A700, cheguei a ter dois flashes, os quais eu gostava de brincar fazendo fotos off-shoe. Mas nunca foi muito a minha praia, nunca rolou uma química, não sei.

Também flash tem aquelas limitações; mais uma coisa para carregar na bolsa, tem que esperar recarregar depois de cada disparo, mais um monte de pilhas etc. etc. etc.

O que me deu a confiança para adotar o estilo sem flash, remar contra a corrente, foi esse artigo: Wedding Photography Insight with Jeff Ascough

Vale muito a pena ler, mas resumirei: trata-se de um fotógrafo norte-americano de sucesso, de renome, especialista em casamentos, que também optou pelo uso da luz ambiente exclusivamente. E tem várias dicas bem interessantes.

Ele chegou à conclusão que os equipamentos atuais eram bons o suficiente para que se pudesse usar um ISO bem alto, que não existiam na época de filme (o máximo que se fazia com filme era "puxar" um ISO6400. Hoje em dia ISO 12800, 25600 é comum!) sem perder a qualidade. Logo, o flash era desnecessário.

Assim eu pensei "Bom, se esse fotógrafo renomado consegue fazer seu serviço sem flash, eu vou tentar também!" e me equipei de acordo. Adotei lentes rápidas (além das já citadas Tamrons, também uma 35mm F2 e uma 40mm F2.8, uma câmera que oferece um ISO absurdo de até 51200, um dynamic range de 14 pontos e, assim, sinto que "assumi" o estilo de uma vez por todas.

Também tem o prazer de fazer algo diferente, naturalmente. Fazer um ensaio noturno e ver a carinha de surpresa dos cosplayers "Nossa! Achei que fosse ficar tudo escuro, mas parece que tá de dia! Como conseguiu?".

Obviamente (e espero que isso sirva de lição) que eu estou me especializando nesse tipo de fotografia. Não foi simplesmente de "birra" ou vontade de "ser diferente". Quando se adota um estilo de fotografia, qualquer que seja ele, há de se estudar muito, praticar, experimentar, se informar. Masterizar aquele estilo com estudo e esforço.

        6)      Isso reflete na sua escolha de não fazer uso massivo de programas? Porque sempre tenho a impressão que você não curte muito editar.

Não, não! Isso veio antes! Eu já não editava as fotos desde que comecei a fotografar, lá em 2006 (digo 2006 porque foi quando comecei "oficialmente" a fotografar eventos).

De novo, uma série de razões. Talvez as primordiais sejam:

1) Eu não sei o que fazer com as fotos! Porque há uma riqueza de possibilidades tão grandes de se editar uma foto, todas de maneiras muito legais, que daria um resultado interessantíssimo, que acabo me sentindo perdido. Como uma vez me disse meu grande amigo Marcos Vinícius "Kim": "Você sabe mexer no Photoshop. Você só não sabe o que fazer!". BINGO!

2) Por causa do trabalho no CB, que também tinha um viés foto-jornalístico (dentro das nossas possibilidades da época, naturalmente), era necessário uma rapidez na postagem das fotos. E eu, pessoalmente, sempre tive um pé ali na área de jornalismo. Uma das coisas que mais se prezam é a velocidade da informação; no meu (nosso) caso, é a velocidade com que as fotos vão ao ar. Se eu não edito, posso fazer isso muito mais rapidamente.

3) No fim das contas, percebi que os próprios cosplayers gostam de editar suas fotos! E acho chato eu "obrigá-los" a engolir o meu estilo de edição -que poderia nem ser tão bom assim- ao invés de entregar um resultado mais neutro que depois eles próprios pudessem editar ao próprio gosto. Acho mais honesto, digamos assim.
Entretanto, eu sei das vantagens de um RAW e das limitações do JPEG. Esse meu estilo de não editar, naturalmente, traz desvantagens. Para contorná-las eu fui -sou- obrigado a fazer a foto ficar boa "na unha", direto da câmera. Porque se ela ficar ruim ali, eu não posso fazer muito mais para consertá-la do que se tirasse em RAW.

Ou seja, sou obrigado a melhorar, a crescer, como fotografista também. É o mesmo caso de optar não tirar fotos com flash. Eu não me acomodei com "eu tiro foto assim e pronto. Aceitem!". Ao contrário, usei -e uso- como forma de aprender cada vez mais, tirar o máximo possível da câmera e de mim mesmo.
E aqui eu sou obrigado a citar uma frase que li uma vez num livro (acredito que seja da artista plástica Fayga Ostrower): "A liberdade do artista dá-se no seu direito de se limitar". Se eu crio uma adversidade para mim, eu exerço a minha liberdade de artista e me forço a me aprimorar. Nunca serei perfeito no meu estilo (quem o é?), mas estou sempre procurando o aprimoramento. Isso é o mais importante!

7)      Interessante esta maneira de pensar, ja recebeu alguma negativa de algum cosplayer ou "comentarista de internet" pelo seu estilo?

Olha, que tenha chegado a mim, de negativo, não. Não duvido que alguém, em algum lugar, em algum momento fale/tenha falado. Sempre tem, né?

Mas o que chegou até mim, várias vezes, até de gente bem próxima é "Mas por que você não edita as fotos?? Fica muito melhor!" e variantes. Nunca achei ruim, nem condenei essas pessoas, porque eram perguntas bem válidas.

Às vezes, pela repetição, insistência, enchia um pouco o saco, não nego. Porém, tudo depende de como se olha, né? Esse questionamento outrora constante das pessoas foi o que serviu para me pôr para refletir muito sobre o meu estilo. Como eu estava fazendo as coisas, por que estava fazendo as coisas daquele jeito. No fim, só me agregou, porque acabei, de um modo ou de outro, procurando por referências de outras pessoas que tinham um estilo parecido e serviu para me aprofundar e solidificar uma base.

O meu estilo é totalmente instintivo. Se perguntar "como começou a fazer tal coisa?" a resposta provavelmente será "Não sei! Foi assim porque sim!". Entretanto, conforme algumas coisas foram se tornando mais constantes no meu estilo, vi que era "o caminho a seguir" fui moldando, aperfeiçoando. O que eu faço, como eu faço, hoje, não é meramente ao acaso. Tem um bocado de esforço. Cada evento, cada ensaio, cada passeio no parque e com fotos que não são de cosplay, cada aula de fotografia que dou, é uma descoberta para mim e um tijolinho a mais no meu estilo.

8)      Ai te pergunto: De 2006, quando você começou a levar mais a sério a fotografia, até hoje o que mudou nas suas fotos acima de tudo?

Ah, cara! Foi bom você ter feito essa pergunta hoje porque, como você sabe, eu repassei recentemente todas as minhas fotos de 2006 para cá. Então, num curto espaço de tempo, pude rever tudo que fiz desde que comecei. Mesmo que tenha passado rapidamente pelas fotos, porque só as estava re-selecionando, já deu para sentir umas diferenças.

Muito embora eu não tenha conseguido, ainda, fazer uma reflexão profunda da mudança. Mas houve, sim. O que eu consigo dizer (juro que queria dizer mais, mas é um processo lento. Analisar a própria obra não é nada fácil!!!) é que hoje consigo sentir mais "maturidade" no estilo.

No começo, como era de se esperar, eu arriscava muito mais, porque estava naquela fase de experimentação. Algumas coisas bem sucedidas, que reproduzo até hoje, e outras que eu olhei e pensei "Meu Deus! Como que eu fiz isso? Por quê???" *risos*. Mas tudo dentro do esperado.
Teve o período com a A100, a câmera que eu nunca amei e que nunca me amou.

E o período mais marcante e a ruptura com ele:
Quando eu fotografava no "Studio CB". Quando havia a escala de fotógrafos no CB, eu sempre "brigava" para ficar no estúdio. Era uma zona de conforto imensa! Num espaço controlado, em que os cosplayers vinham até mim, no meu fundinho branco (por ora meio acinzentando com marcas de pé), com a mesma iluminação -ou falta dela-, sem sombras, sem nuvens, sem sol mudando de posição. Tudo muito bem, tudo muito bom.

Até que eu vim para Porto Alegre. Sem estúdio. Sem espacinho reservado. Sem conhecer ninguém, portanto, sem cosplayers vindo até mim. Eu saindo dessa posição completamente passiva para ter virar "caçador". Não apenas "caçar" cosplayers, mas encontrar o melhor lugar para fotografar. A melhor luz. Tudo. Antes era animal de cativeiro, agora animal selvagem.
Comparando as fotos da época do CB, com as atuais, nota-se essa maturidade, essa mudança de postura.

Claro que mesmo em SP eu já havia tido um grande amadurecimento, já tinha tido a chance de melhorar em diversos outros aspectos, já tinha feito um número razoável de photoshoots por aí (todos a céu aberto).....

Outra mudança radical, para melhor, foram as fotografias de palco. No começo era completamente "trigger-go-happy" (ou "gatilho-feliz" numa tradução livre). O que me gerava mais de 1000 fotos para depois sobrarem 300. Um trabalho desnecessário. Comecei a ficar mais atento ao "momento decisivo" no palco (com perdão ao Cartier-Bresson em usar o termo dele para algo tão mundano), menos, porém mais precisos, cliques.

Nos meus últimos momentos de SP, posso até dizer que virei "especialista de palco".

       9)   Você saiu de São Paulo para Porto Alegre, já fotografou muito aqui no Brasil, nunca pensou em fotografar fora? Pegar um Anime Expo, um Fanime ou ir ate Anime Friends Argentina que é mais perto?

Nossa, penso sempre! Primeiro, o Brasil. Depois, o mundo! *risos* (não me levem muito a sério, leitores do blog!) Eu fiquei muito perto de ter ido a um evento da Argentina em 2009. Não era o Anime Friends, mas era do mesmo organizador, o Leo Llinas.

Estive em Buenos Aires e já estava lá fazia quase duas semanas quando, passeando pelas ruas, encontrei uma lojinha de "artigos nerds" e vi lá o anúncio do evento. Seria na semana seguinte à que eu iria embora. Por um momento pensei em tentar transferir a minha passagem e ficar mais uma semana na capital portenha. Eu estava hospedado no apartamento de um amigo meu (que mora até hoje com a namorada) e, como se sabe, "visita é que nem peixe. Depois de uns dias, começa a feder". No caso, o peixe, era eu. O clima lá já tava ficando meio cansativo, daí achei melhor voltar na minha data original e deixar o evento para outra hora.


Mas estou querendo ir para eventos no exterior, sim. Só não digo onde, nem quando, para não atrair olho gordo. Apenas digo que, eventualmente, se o Cosmos quiser, vocês verão o "Photo by: Neo NiGHTS" em solos gringos.
Prioridade é retomar os estudos de espanhol para poder ir àlgum evento mais perto aqui.

Quando estiver pensando em ir me avise, vai que vamos juntos porque vontade também tenho!

Pode deixar que quando estiver tudo arrumado, visto conseguido, passagem comprada e tudo mais, aviso! Só tenho que manter as coisas meio por debaixo dos panos para não criar expectativas e atrair olho gordo. Que é forte!

         10)  Como você vê hoje a fotografia de Cosplay aqui? Acha que pode se tornar algo mais profissional como la fora ou estamos fadados a ficar só no "hobby" e a mercê da galera com a "câmera grande" ?

Admito que não sou do tipo que fica olhando muito o trabalho alheio. Mas, como é difícil ficar 100% alheio a tudo que se passa ao redor, eventualmente acabo vendo fotos de outros fotógrafos, incluindo estrangeiros.

Primeiro que impressiona como aumentou o número de gente fotografando. E gente boa mesmo! Pô, parece que foi ontem que era "meia dúzia de gato pingado" levando fotografia de cosplay pouco mais a sério e agora acho que virou um nicho mesmo. Como não sei também como é lá fora, quão profissional é, fica difícil dar uma resposta mais precisa ou, ao menos, bem embasada.

Mas ainda tenho algumas ressalvas quanto a isso.... se me permitir posso me alongar e explicar esse meu achismo.

            Por favor!

Acho a fotografia de cosplay, num geral, aqui e no resto do mundo, ainda sem identidade. Esperado, por ser algo novo. E eu tenho minhas sérias dúvidas se ela teria se popularizado sem o advento das câmeras digitais (mas não é isso que quero discutir aqui *risos*).

Por exemplo, você vê as categorias de fotografia consagradas como Moda, Arquitetura, Esportes, fotojornalismo num geral etc., e percebe um estilo bem determinado.Isso eu não vejo nas fotografias de cosplay. Eu fotografo num misto Artístico-Jornalístico e tenho um enfoque em transformar o cosplayer em "como seria se o personagem se ele existisse de verdade". Portanto, eu não me preocupo se a roupa tá meio amassada, se o cosplayer tem rugas, se tem "banhinha" saindo pela roupa apertada. Eu quero adaptar o personagem à realidade, por assim dizer.

Por outro lado, há um outro tanto de gente que quer transformar o cosplayer num verdadeiro personagem de ficção, abusando de luzes, cenários e, principalmente edição.

Também tem a questão de que muita gente que fotografa não é, originalmente, do "mundo otaku". São pessoas que viram aquelas "pessoas esquisitas, de roupas engraçadas" e viram ali um assunto riquíssimo para fotografar. Gente das mais diversas áreas, especialmente Moda. 

Você vai num evento de anime e vê gente tirando foto como se fosse em balada; fotos de multidão, sem focar especificamente em uma coisa ou outra.

Tudo isso gera essa esquizofrenia, essa heterogeneidade, que deixa difícil dizer "será que a fotografia de cosplay será algo levado a sério"? Porque, a rigor, não há, ainda, uma "fotografia de cosplay" bem conceituada, bem formatada, bem aceita.

Não estou aqui, de forma alguma, criticando estilo A, B ou C. Tampouco dizendo que quem veio de outras áreas não podem fotografar cosplay. Só apontando as diferenças.

Pequenas diferenças de estilo -veja bem, estilo!- são bem naturais e bem-vindas. Assim como um Masami Kurumada não tem o mesmo traço de um Eichiro Oda, ambos são mangakás. E o sabemos porque, diferenças de estilo à parte, eles seguem um padrão do mangá.

O que eu espero, pessoalmente, no mínimo, é que se forme uma categoria bem definida "foto de cosplay".

11)  Mas o que falta pra dar esta "identidade"? Mal ou bem, o bom da fotografia é você diferenciar um trabalho do outro, apesar de muitos estilos serem parecidos.

Acho que falta tempo. Digo, tempo de estrada, sabe? Já viu as primeiras fotografias de fotojornalismo do começo do século passado? Walker Evans, Dorothea Lange, Cartier-Bresson, Lewis Hine... eles ainda tinham aquela coisa meio artística, resquício das pinturas de quadros (por assim dizer). Meio que tentavam deixar -voluntariamente ou não- a pobreza bonita, artística.

Acredito que se "fotografia de cosplay" não for uma modinha dessas primeiras duas décadas do Século XXI, o tempo vai se encarregar de dar uma formatação pra coisa.

Convenhamos, a maior parte das pessoas que fotografam cosplay são jovens. Gente de, no máximo, 40 anos. A maioria (como eu e você) já começou direto nas câmeras digitais. Vamos evoluir como pessoas, como fotógrafos e tudo isso refletirá nas fotografias de cosplay.

Nós, que começamos um pouquinho antes, temos um grande papel de servir de referência para quem tá chegando agora.

Como eu disse, estilo do fotógrafo é uma coisa. Um estilo fotográfico, uma categoria fotográfica, é outro.

Por exemplo, toda fotografia de casamento tem que ter foto do buquê, dos noivos entrando na igreja (especialmente a noiva!) e dos noivos se beijando na hora do "sim". Todo o resto, de como isso é feito, é estilo do fotógrafo. Melhor ou pior, não importa. Mas todos eles sabem que têm que seguir certas regras daquela categoria que escolheram.

          12)  Acha que em algum momento, por estar a tanto tempo, vai parar de fotografar cosplays e seguir para outra área?

Difícil... só se, por milagre, descobrir outro ramo da fotografia que me agrade mais do que tirar foto de cosplay. Incrivelmente, fotografar cosplays é exatamente o que ainda me manteve na fotografia. 

Como bom artista, já tive lá minhas crises de "Ah, cansei de tudo!!! Dane-se o mundo!!" e depois soseguei. Não tem muito o que explicar; simplesmente me agrada fotografar cosplayers. Não só pela fotografia, mas pelo processo. O ato de ir encontrar o cosplayer, fotografar, o tempo que se passa junto, é quase sempre muito divertido.

A foto em si acaba virando um "detalhe", por assim dizer. Ela é consequência do processo e não a razão de ser.

Ou seja, se parar de fotografar cosplay, a tendência seria até mesmo parar de fotografar.


       13)  Você passou recentemente por uma pequena “polemica” com um evento ai do Sul, isso inclusive me lembra que nos ja passamos por discussões mais "acaloradas", mas essa ultima o que foi que aconteceu?

Ixe! Será que tem como resumir? *risos*
Aconteceu que surgiu uma galerinha nova aqui, que ninguém nunca ouviu falar, e prometendo mundos e fundos. Normal, porque quem tá nesse mundo otaku há ano já viu isso tantas vezes. No caso, apesar de uma "leve" soberba, achei bacana a presença de mais um evento porque o calendário de eventos aqui em Porto Alegre é meio vazio.

Faltando umas três semanas para o evento, fui ao site deles e fiz meu cadastro de imprensa, como sempre faço com todos os eventos daqui. Passou uma semana toda e não obtive um retorno. Fui e mandei de novo o cadastro. Mais um tempão, e sem resposta. Chegou na véspera do evento e eu anunciei no facebook que não iria mais, porque não havia tido um retorno da organização; não me disseram nem "sim" e nem "não".

Algumas pessoas próximas a mim, resolveram pôr a boca no trombone e consegui contato direto com o organizador responsável por esse cadastro de imprensa. Fui tratar com ele, diretamente, pelo facebook e expliquei a situação, que havia enviado o formulário duas vezes e não recebi qualquer retorno. Ele respondeu com um "Então você não foi escolhido". Vou encurtar a maneira seca e um tanto esnobe com a qual me tratou depois disso.

Resolvi expor a situação no facebook e houve uma certa comoção geral, digamos assim.
Passou o evento, achei que a história havia sido encerrada até que, num programa de webradio que tem por aqui, o qual um dos organizadores do dito evento estavam presentes, um conhecido meu perguntou, de boa fé, sobre o que havia acontecido comigo (Neo Nights). A resposta do rapaz foi "Quem é Neo Nights?"

Para deixar a situação mais tragicômica, um outro participante do programa, que é responsável pelo segundo site mais popular de eventos aqui no RS, aproveitou para explicar quem eu era. Só que o fez de um modo que não me favoreceu muito. Fez comentários como que "Só tira (eu) fotos de umas pessoas que ele conhece", que não faço "fotos de cobertura" e daí pra baixo.


Acho que foi o maior golpe de traição da minha vida. Porque sempre tive uma relação muito educada e muito cordial com esse colega de imprensa. Embora o site dele não faça mais o meu estilo de trabalho, sempre o respeitei muito.

Esperava ali até um pouquinho mais de "corporativismo" e o que teve foi uma facada nas costas. Muito chato, muito desnecessário e, sobretudo, muito deselegante. Primeira vez na vida que sofri com isso.

Como resposta fiz um texto no facebook explicando todo o meu histórico aqui no mundo otaku.
Se alguém não me conhecia, passou a me conhecer. Fiz questão de fazer daquele post, um post público.

             14)   Teve algum evento que ficou marcado para você?

"Profissionalmente", que eu fui para trabalhar?

                      Isso.

Vou citar três, cada um marcou de um jeito diferente. Por ordem de importância: 

1) Anime Friends 2008, o primeiro no Mart Center. Acho que foi o melhor evento que trabalhei. O espaço era enorme, muito amplo. Mesmo com evento lotado no domingo, conseguia me locomover entre o palco e a Sala do CB. A Sala do CB, então, foi uma coisa à parte. Conseguimos pegar uma sala bem grande (para quem não conhece o Mart Center, ele era um complexo formado por diversos pavilhões. Todos os pavilhões tinham uma estrutura de lojas de shopping, porque ele era mesmo um conjunto de shoppingzinhos), com dois andares, onde pudemos montar no "centro de imprensa". Tínhamos notebooks, conexão 3G (obrigado, Phael, pelo 3G!), então dava para já postar algumas fotos lá do evento em tempo real. Havia também um pavilhão que não fazia parte do "complexo" do Anime Friends e lá tinha uma boa praça de alimentação. Ir a um evento extremamente desgastante como o AF, mas poder almoçar comida de verdade, pagando um preço barato, foi incrível! (e como o espaço era amplo, eu conseguia me locomover rapidamente da área do palco até o pavilhão que tinha comida. Entre um desfile cosplay e concurso de cosplay, era tempo o suficiente para almoçar com calma e voltar. Sem me espremer no público!) Ah, claro, ali também cobri de cabo a rabo o YCC nacional.

2) ComicCon (Porto Alegre) 2013 - Foi meu primeiro evento de algo de não-anime. Já haviam me dito que eventos de comics era diverso dos de anime. Que o público era diferente, era mais "de boas". E pude comprovar! Evento sem gente gritando e correndo. Sem meninas vendendo beijos a R$0,50. Sem aquela parte chata dos eventos de anime. Apenas gente sossegada, querendo curtir suas palestras, seus jogos de RPG, seus cosplays e boa. Excelente experiência, até para mim, que não sou da área de comics e RPGs.

3) Animecon 2007 - foi o último Animecon que fui e, honestamente, detestei o evento. Profundamente! Só que ele tem um "detalhe" todo especial: não sei que raios de conversão astral que rolou naquele final de semana que eu tirei muita foto boa! Muitas das melhores fotos de cosplay que tirei em evento, são do Animecon 2007! Apesar de tecnicamente ter sido uma droga, o resultado fotográfico foi o melhor possível! Não dá para entender!!! Fotograficamente ele merece estar na lista.

Gabriel, Neo, chegamos ao final da entrevista! Queria te agradecer muito por este tempinho que você cedeu para gente. Gostaria que se deixasse ai algumas palavras, principalmente pro pessoal que ta começando.

Mas já? Nem estamos aqui há três horas de papo! *risos*

Meu recado para quem tá começando a fotografar é: ESTUDE. É evidente que fotografia é prática, isso é inegável. Nem tem o que discutir. Pode-se acertar mais do que errar, se você tiver um "dom" a mais que o outro. Mas prática, sem teoria, é só um exercício vazio de tentativa e erro e não dá para fazer algo constantemente bom assim.

Vão atrás de informações, não tenham preguiça de aprender. E quando obtiverem conhecimento, compartilhem-no. Sem essa de guardar segredos, também não leva a nada. Conhecimento é para ser compartilhado.

Quero também agradecer a você, Bruno, meu primeiro "meio-aluno". Já te disse uma vez mas digo aqui, publicamente: uma pena que quando você começou eu também tava meio cru e não pude, pessoalmente, te ensinar mais coisas. Mas é um orgulho enorme ver o quanto você se esforçou e hoje tem um trabalho brilhante! Todos os méritos seus por ter corrido atrás e fazê-lo até hoje!
Aos cosplayers que me dão a chance de fotografá-los. Sem vocês eu não estaria aqui, de verdade. Continuem com o excelente trabalho.

Quem não tem nada a ver com a história, não é cosplayer e nem fotógrafo, mas leu a entrevista e/ou gosta do meu trabalho, o meu muito obrigado.
Assim como as pessoas que já fizeram/fazem críticas, quaisquer que sejam. Sempre me põe a refletir e me fazem crescer como pessoa e como fotografista (fotografista, viu? Fotógrafos são os pros, igual o Bruno aqui!).

Cuidem-se todos!

É isso aí!

3 comentários:

  1. Valeu, novamente, Shinji "Bishcuôito" pela oportunidade! Espero que seus leitores gostem da entrevista.

    Não vou pedir para gostarem do entrevistado, porém xD

    Abraço!

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    Respostas
    1. Eu que agradeço pela entrevista =)
      Foi bem divertida inclusive!

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  2. Cada dia me surpriendo mais com a complexidade deste mundo de eventos, animes, cosplayer's, RPG.
    Intriga! Jogo de influências! Profissionalismo! Paixão! Ódio! decepções! Técnicas! Filosofias.
    Tudo isso em uma única entrevista!
    Muito interessante!!! Muito interessante!!

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